sexta-feira, dezembro 29, 2023

Sala de estar


Hoje eu li um texto sobre bandas que acabaram nos últimos tempos e reparei que duas delas eram nossas preferidas. Quando li a notícia ela pareceu falar sobre mim. Sobre esses anos que passaram enquanto eu estive aqui, sentada à beira do sonho. Ilusoriamente buscando pedaços de nós. A verdade é que não encontro nada. Nada além de umas memórias escritas ou cantadas, que ficaram como recordações. Algumas delas, cativas do tempo, já ficam turvas, como se parte dum filme que se viu há muitos anos. Mas há sempre algo que fica. Quando você me visitou no primeiro dia depois de termos nos despido de alma e corpo, tocava Cranberries na sala de estar. Não é engraçado esse termo? Os nomes das salas quase sempre nos dizem o que fazer: numa se janta, noutra se espera por algo que virá. Nessa não há nada que se faça: é sobre permanecer, apenas. Talvez por isso eu tenha nítidas lembranças de todas as vezes em que te vi sentado no meu sofá, com olhos inquietos e desejosos. Será que aí do outro lado você se lembra? Será que também levantou no meio da madrugada e depois, de olhos pregados no teto, lembrou qualquer coisa de nós? Será que em algum dia dos últimos dez anos você quis ter estado de novo na minha sala estar?

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